Em praticamente todos os terreiros de Umbanda, as entidades quando chegam utilizam de uma pedra de giz bruto, conhecida como “pemba”, para traçarem no chão, ou em tábuas alguns sinais, a princípio ininteligíveis para os leigos. Esses sinais são chamados de “pontos riscados” e sua confecção, longe de ser aleatória, obedece a um padrão previamente definido que só é conhecido pelas entidades e pelos iniciados na Doutrina Umbandista. Esse padrão é conhecido como “Lei de Pemba”, ou ainda “Grafia dos Orixás”.
Na prática, todas as entidades que trabalham na Corrente Astral de Umbanda tem seu próprio ponto e, todas elas obedecem à Lei de Pemba, pois é um código reconhecido entre os espíritos de um modo geral que serve, tanto para fazer a identificação da entidade comunicante, quanto para estabelecer ordenações de trabalho que deverão ser seguidas por todos os subordinados àquela entidade que estejam atuando naquele momento dentro do terreiro, incluídos aí os espíritos oriundos da Quimbanda e, até mesmo os elementais.
Apesar disso, é comum encontrarmos, em muitas casas, pontos riscados que apresentam motivos diversos, como lanças, escudos, arcos, machadinhas, estrelas, luas, espadas, cruzes e tantos outros que nada tem a ver com os sinais traçados na verdadeira Lei de Pemba. Há muitas razões para que isso aconteça e, entre as mais comuns, encontramos o animismo de médiuns conscientes que preferem, eles mesmos, criarem os pontos de suas entidades, sem possuírem qualquer conhecimento da verdadeira Grafia dos Orixás.
Todo o traçado dos pontos se destina, em primeiro lugar, a fazer a identificação da entidade comunicante e, para isso, existem apenas três conjuntos de sinais que, quando devidamente conjugados, são capazes de identificar qualquer entidade da Corrente Astral de Umbanda. Também aqui a simplicidade impera.
Já sabemos que as entidades que se manifestam em Umbanda são sempre Caboclos, Pretos Velhos, Crianças e Exus (além, é claro, das falanges auxiliares, mas essas são um caso a parte). É o que chamamos de “banda”, sendo possível falar de “banda de caboclos”, “banda de pretos velhos”, etc. Sabemos também que todos eles estão vinculados inexoravelmente a uma das sete linhas, ou seja: Caboclos nas linhas de Oxalá, Ogum, Xangô, Oxossi e Iemanjá; Pretos Velhos na linha de Yorimá e Crianças na linha de Yori. Essas linhas são hierarquizadas e uma entidade pode estar no grau de Orixá menor, de guia, ou de protetor. Além disso, todos estão inseridos dentro de legiões, falanges e grupamentos. Um verdadeiro ponto riscado, que obedeça sistematicamente a Grafia dos Orixás, irá sempre identificar todas essas características.
Os três conjuntos de sinais são assim divididos:
- Sinal de flecha: indica a banda
- Sinal de chave: indica a linha.
- Sinal de raiz: indica a hierarquia, a legião, a falange, o grupamento, etc. Além disso, os sinais de raiz podem ainda indicar algumas funções específicas que as entidades possuam, bem como tarefas específicas que haja para serem realizadas.
Entre os Exus os sinais obedecem aos mesmos parâmetros, por isso os tradicionais tridentes, punhais, e outras extravagâncias que vemos comumente nada tem a ver com os verdadeiros sinais riscados da Lei de Pemba. Acontece que o traçado das flechas nas linhas de Exu e a maneira como elas se cruzam podem, em dado momento se assemelhar a um tridente. A partir daí a imaginação popular e o sincretismo religioso que durante tantos anos transformaram nossos queridos irmãos Exus e Pomba-Giras em demônios , encarregaram-se de enxergar uma profusão de tridentes, por um processo de associação de idéias com a figura lendária do diabo que carrega um desse garfos, provavelmente para espetar seus desafetos. É a velha e cruel superstição.
Posteriormente estaremos publicando outros artigos nos quais pretendemos falar com mais detalhes sobre os sinais e trazer maiores explicações. O assunto é complexo e amplo demais para ser tratado num único tópico. Além disso o objetivo desse tópico é principalmente o de trazer à tona a verdadeira Grafia dos Orixás e desmistificar os pontos simbólicos que tanto vemos por aí, mas que, na prática nada significam.