OS EXUS.

As Mazelas da Ignorância.

Em Umbanda nada é mais mal entendido e causa mais polêmica que a figura de Exu. Trata-se de um problema que tem origem, assim como tantos outros, na falta de uma codificação que desse unidade doutrinária e estabelecesse conceitos sólidos.

Sucede que em seus primórdios a Umbanda surgiu como uma religião destinada a trazer consolo principalmene às camadas mais desfavorecidas da população que, naquele momento, vinham cada vez mais aumentando as fileiras das "macumbas" cariocas e criando uma egrégora favorável aos rituais de magia negra e às legiões de espíritos malévolos que buscam oportunidades para estabelecerem colônias de seguidores na crosta do planeta.

Assim, na mente de pessoas simples e facilmente impressionáveis e na falta de uma linha doutrinária definida, a figura de Exu não tardou a ser confundida com a de seres demoníacos, irresponsáveis, beberrões e voltados para a prática de qualquer tipo de trabalho, mediante um pagamento significativo em bens materiais de gosto duvidoso, como cachaças, galinhas negras, velas, punhais, farofas, sangue, bodes e uma infinidade de outras quiquilharias que a ignorância popular conseguiu associar à figura do diabo católico.

Criou-se assim um Exu temido, malfazejo, cuja simples pronúncia do nome fazia as pessoas se benzerem. Proliferaram, nas vias urbanas, os despachos nas encruzilhadas que levavam os pedestres a desviarem o caminho, horrorizados ante a perspectiva do mal latente. Tudo superstição, fantasia, desconhecimento da verdade. Mas o que é pior: essas crendices abriram caminho para que espíritos verdadeiramente maus - os chamados quiumbas - se prevalecessem e tirassem proveito, manipulando pessoas ignorantes a fim de conseguirem comparsas devotados entre os encarnados.

A Verdade sobre os Exus.

As regiões umbralinas estão lotadas de espíritos das mais variadas tendências, desde aqueles sofredores, em trabalho de resgate de erros cometidos em uma encarnação mal aproveitada, passando por aqueles zombeteiros, descomprometidos, arraigados à matéria e que tudo fazem por alguns agrados materiais, até aqueles decididamente voltados para o mal, cujo único intento é contribuir para destruir o equilíbrio do planeta, provocando desgraças de toda sorte, a fim de atrasar a evolução da Terra na ordem dos mundos.


Existem muitos espíritos que passaram por essas regiões, mas já conseguiram atingir um plano de consciência mais elevado, que lhes permitiu deixar as regiões umbralinas e buscar oportunidades de trabalho durante seu período de erraticidade. Tais entidades são arregimentadas pelos Caboclos, Pretos Velhos e Crianças, a fim de executarem trabalhos de combate da magia negativa emanada do astral inferior, bem como de fazerem incursões dentro mesmo das regiões mais profundas do umbral que eles conhecem e onde tem, de certa forma "trânsito livre". Assim é mais fácil para eles resgatarem indivíduos que já superaram sua etapa de provas e dores. Funcionam, portanto, como uma "polícia de choque", fazendo tanto operações arriscadas, como a proteção de trabalhos nos terreiros, o que lhes confere também o nome de Guardiões. Muitos deles tem um longo passado militar, são experimentados em combates, além de serem grandes estrategistas, o que ainda mais os habilita para as tarefas que lhes são destinadas. Esses são os Verdadeiros Exus.

Os Exus Femininos ou Pombas Giras.

Da mesma forma que se criaram mitos absurdos em torno da figura dos Exus, também se produziram histórias profundamente desabonadoras sobre a figura das pombas giras.

O imaginário popular projetou sobre essas nossas queridas irmãs a imagem de prostitutas do astral, mulheres vulgares voltadas unicamente para assuntos ligados ao sexo em sua vertente mais suja e debochada. Rapidamente foram tidas na conta de espíritos malévolos, dispostos a fazer amarrações amorosas forçadas, desrespeitando o livre-arbítrio de qualquer indivíduo, bem como a destruir uniões legítimas, separando cônjuges e desunindo famílias, unicamente para atender aos caprichos mesquinhos e aos desequilíbrios afetivos e sexuais de alguns encarnados malévolos ou vítimas de obsessões profundas.

Na verdade o maior prejuízo causado por essas concepções errôneas reside no fato de que sob essa imagem, milhares de quiumbas sequiosos de fazer o mal e angariar vantagens ilícitas utilizavam e ainda utilizam em larga escala a vestimenta de Pomba Gira, em centros onde não existe compromisso com o bem, para atender a tais pedidos e continuar a conspurcar o nome das verdadeiras Pombas Giras perante a opinião pública em geral, principalmente perante aqueles que não conhecem e se propõem a julgar com base unicamente nas aparências.

Os despachos encontrados em encruzilhadas, com galinhas pretas, garrafas de espumante barato, cigarrilhas, rosas vermelhas e fotografias ou nomes de casais a serem unidos ou separados, definitivamente não são obras de Pombas Giras autênticas.

A Verdade sobre as Pombas Giras.

É inegável que a sexualidade é uma das maiores forças latentes no plano dos encarnados. Da mesma forma que os sexo é um fator de atração e de edificação, por força da função reprodutiva, é também um poderoso fator de desequilíbrio de muitos seres encarnados que, entregando-se a paixões desenfreadas, deixam-se envolver por uma atmosfera de sedução, luxúria, prazer irresponsável, usando pessoas e causando dores que muitas vezes se arrastam por dezenas de anos, transpondo, inclusive a barreira do desencarne. Grande parte dos desequilíbrios, dos ódios, dos resgates forçados encontrados no umbral estão ligados ao uso nocivo e pernicioso do sexo ao longo de uma ou mais encarnações.

Grande parte das pessoas não sabe, ou não se interessa em saber que alguns minutos de prazer podem custar anos, décadas, até mesmo séculos de dor e revolta na mente daqueles e daquelas que, empenhando sentimentos puros, recebem em contrapartida o desprezo, o escárnio, a traição e a indiferença.
Nessa linha, a principal função das genuínas Pombas Giras é trabalhar junto aos encarnados procurando refrear e reequilibrar as funções afetivas e sexuais que eventualmente se encontrem em estado de desequilíbrio potencial, ou efetivo.
Na prática, tanto Exus, quanto Pombas Giras desenvolvem trabalhos mais ligados às áreas instintivas da mente, ou a imperativos do plano material, como desequilíbrios financeiros, desejos de vingança, ódios ou paixões. Seu trabalho, contudo, se realiza sempre no sentido de reconduzir as situações conflituosas a um estado de equilíbrio, contribuindo para a harmonização das pessoas.
Suas consultas são sempre bastante detalhadas e geralmente marcadas por práticas manipulatórias. Utilizam-se em grande escala do tabaco, como fluido deletério desimantador, a fim de derreter larvas astrais ou desimantar cargas negativas pesadas. São risonhos e agradáveis e sempre produzem uma sensação de melhora do humor dos consulentes.
Suas linhas se organizam exatamente como as linhas dos Orixás, em linha vertical, descendente que se multiplica em base sete. No topo da pirâmide estão os chamados Exus Batizados, trabalhadores já bastante espiritualizados, mas ainda sujeitos à Lei de Reencarnação.
Na base da pirâmide encontram-se aqueles que estão iniciando sua etapa de trabalho na Corrente Astral de Umbanda, chamados Exus Pagãos, ainda pouco espiritualizados, mas detentores de grande potencial de trabalho em benefício do próximo. É a grandeza da Umbanda que oportuniza aos irmãos em qualquer ponto da escala evolutiva a terapia do trabalho, a fim de que o resgate das faltas se faça pelo amor, ao invés de somente pela dor.
As linhas de Exus atuam sempre sob o comando das sete linhas de Orixás, com os quais tem correspondência vibratória, razão pela qual é possível falar em Exus de Oxalá, de Ogum, de Xangô, de Oxóssi, de Iemanjá, de Yorimá e de Yori. Todos os trabalhos que executam ocorrem sempre sob a supervisão dos trabalhadores dessas linhas, por essa razão, é comum ouvirmos nos terreiros que Exu é o mensageiro dos Orixás.
Todo respeito e consideração com esses irmãos que, por estarem mais próximos e mais afeitos às vibrações da matéria densa, são também grandes protetores de todos nós encarnados nas lides do cotidiano, ajudando-nos em situações difíceis, de perigo iminente. Sem que o percebamos, muitas vezes eles nos carregam no colo.

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