UMBANDA E CANDOMBLÉ

Não resta dúvida - e não se pode querer negar essa realidade - que o elemento africano trazido como escravo para o Brasil teve um papel primordial na  formação da Umbanda como ela é hoje entendida.

O negro trouxe consigo, de sua cultura, de suas origens, a crença nos Orixás, herdada ancestralmente desde a era das migrações atlantes e passada por tradição oral de geração em geração, que acabou por dar origem aos cultos das diversas nações (Bantu, Gêge, Nagô, Angola, Quetu, entre outas) que continuaram a ser praticados no cativeiro disfarçado sob o sincretismo com os santos católicos.


Essa resistência religiosa, verdadeiro exemplo de heroísmo em nome da fé, preservou grande parte de seu conteúdo original, onde os Orixás eram cultuados como deuses - cujos emissários eram recebidos em transe mediúnico - aos quais se faziam oferendas periódicas.

Por cerca de quatro séculos a tradição se manteve, a despeito da perseguição e do preconceito e, mesmo após a abolição, os cultos afro continuaram a ser perseguidos, até mesmo com tipificação própria no Código Penal, mas a vontade e a fé se impuseram e hoje os inúmeros barracões de Candomblè espalhados pelo país praticam livremente a religião ancestral dos escravos, cada nação com culto e características próprias.

Momento houve, contudo, em que muitos negros recém-libertos, visando a garantir sua sobrevivência fora do cativeiro, tiveram que negociar seu conhecimento de práticas manipulatórias, fazendo trabalhos de toda espécie em troca de dinheiro. Essa prática que misturava elementos da cultura negra, indígena e branca ficou conhecida no Rio de Janeiro e nos estados do Sul/Sudeste como macumba e nos estados do Norte/Nordeste como catimbó.


Nessas macumbas e catimbós não havia ética. Mediante paga se realizavam quaisquer trabalhos, independente de se para o bem ou para o mal. Devido a isso, as práticas de magia negra se espalhavam cada vez mais pelo país, estimuladas pela demanda oriunda de todos os setores da sociedade, mas principalmente pelas camadas menos favorecidas que buscavam nessas práticas alguma compensação para a dureza de suas vidas.

Foi por força disso que ocorreu a interferência do plano maior: as entidades militantes da Corrente Astral de Umbanda acharam por bem criar no Brasil uma religião que pudesse atender aos anseios desses menos favorecidos. Acontece que essa parcela da população já estava acostumada às práticas das macumbas. Como essas macumbas tiveram origem nos antigos praticantes dos cultos de nação, já estavam seus frequentadores acostumados à terminologia e aos Orixás, o que simplificou bastante a tarefa de levar uma mensagem de consolo através da Umbanda.

Muitos podem se perguntar por que essa mensagem não poderia ser levada dentro dos próprios candomblés. Sucede que os cultos de nação que se mantiveram fiéis à tradição praticavam o culto aos Orixás como se esses fossem deuses e só aceitavam as manifestações de emissários desses deuses, considerando as entidades militantes - Caboclos, Pretos-Velhos e Crianças - como espíritos sofredores (eguns) que nada tinham a acrescentar e que, por conseguinte, não poderiam se propor a ajudar quem quer que fosse.

A Umbanda veio, então, ocupar um lugar que se encontrava vago e carente na estrutura religiosa da sociedade, trazendo consigo uma mensagem universalista de prestar a caridade a qualquer pessoa indistintamente, independente de classe social, cor, credo, ou qualque outro fator de identificação social.


Nessa visão adotou os nomes dos Orixás que milenarmente foram preservados, como herança das tradições atlantes, mas trouxe consigo uma forma de culto completamente diferenciada, onde Orixás são tratados como vibrações primárias dentro das quais se enfeixam as legiões de trabalhadores espirituais abnegados, voltados unicamente para a prática do bem, nos moldes como o preconizou Jesus.

A Umbanda verdadeira prima pela simplicidade das formas, não exige sacrifícios, exceto o da vaidade e do orgulho,  não possui processos divinatórios como búzios ou cartas praticados por encarnados, não utiliza vestimentas suntuosas e não pratica rituais de feitura.

Assim, é possível perceber que, embora tenha herdado alguns termos dos rituais de nação, Umbanda e Candomblé são religiões totalmente distintas; ambas boas, ambas válidas, ambas engrandecedoras para todos aqueles que as pratiquem com fé verdadeira, mas diferentes entre si.

Por essa razão é um erro grave querer misturar elementos específicos das duas religiões, tentando fazer uma Umbanda fronteiriça. Umbanda possui princípios próprios e esses princípios devem ser conhecidos e respeitados por todos aqueles que se considerem verdadeiros umbandistas.

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