Um Novo Amanhecer

Em novembro de 2008 a Umbanda completou cem anos de sua implantação em território brasileiro, sob a orientação e direção do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Esse primeiro período de existência foi marcado por um trabalho, primeiramente de agregação e, em segundo lugar por um de afirmação. Por essa razão as entidades missionárias, encarregadas de lançar suas bases, abstiveram-se de trazer uma codificação pronta, a fim de que, permanecendo como uma religião aberta, seus caminhos fossem se construindo ao longo do próprio percurso. Isso propiciaria que a descoberta das verdades espirituais acontecesse naturalmente, sem que nada fosse imposto de cima para baixo, num verdadeiro processo de evolução pelo aprendizado.

Assim se fez. A Umbanda nunca teve uma codificação. O aprendizado necessário aconteceu de forma gradativa através do intercâmbio mediúnico, da sensibilidade intuitiva, dos imperativos ditados pelo próprio trabalho, da prática de Caboclos e Pretos Velhos que atuavam, enquanto algumas mentes mais aguçadas assistiam e aprendiam.

Essa metodologia, contudo tinha seus pontos fracos e eles não tardaram a despontar. A ausência de uma norma rigorosa de conduta e de princípios pré-definidos abriu caminho para muitas práticas excêntricas, oriundas tanto da ignorância de alguns, quanto dos interesses escusos de outros que viam na porta aberta da Umbanda uma maneira fácil de impor suas próprias convicções, no mais das vezes totalmente dissociadas das verdades e dos objetivos que o Povo de Aruanda intentava alcançar.

É que uma religião que tem no intercâmbio com o plano astral e nas manipulações de energias etéreas artigos de seu dia-a-dia pode trazer uma certa sensação de poder para muitos que desejem se firmar como supostos líderes espirituais. Isso sempre existiu, desde os primórdios da civilização e não seria diferente com a Umbanda.

Fato é que, ao longo desse período, enquanto alguns se mantinham numa trajetória de aprendizado e evolução, outros instituíam práticas estranhas, supersticiosas, exóticas e até mesmo bizarras. Foi assim que vimos crescerem, sob a denominação de Umbanda, um sem número de cultos que nada tinham a ver com a filosofia e com a prática original: Em oposição aos sete orixás originários, introduziram inúmeras divindades primitivas – várias das quais com representações zoomórficas –; instituíram matanças e rituais regados a sangue e álcool, em nome de supostos Exus, demonizados pelo imaginário popular e transformados em pistoleiros do astral, dispostos a qualquer coisa em nome de um bom pagamento; introduziram cardápios excêntricos, atribuindo aos Orixás um apetite voraz incompatível com a noção elementar de Orixás, que nem mesmo entes são; trouxeram para o culto rituais de iniciação primitivos e humilhantes, submetendo as pessoas a isolamentos prolongados, raspando-lhes a cabeça – inclusive das mulheres – e marcando o corpo com cortes rituais, tudo em nome de entidades que se deviam presumir evoluídas; estabeleceram um sacerdócio majestoso que dava a uma única pessoa enormes poderes sobre a coletividade de fiéis; criaram práticas divinatórias estranhas que, com o tempo, se transformaram em uma forma espúria de comércio, baseada na exploração da boa-fé dos incautos. Tudo isso se fez sob o nome de Umbanda.

Na verdade, por trás de muitas dessas práticas estava o astral inferior; espíritos de baixíssimo padrão vibratório que buscavam comparsas encarnados para juntos contribuírem, tanto para a desestabilização do processo evolutivo de coletividades inteiras, como para a gradativa desmoralização da verdadeira Umbanda.

Os mentores da Corrente Astral de Umbanda a tudo isso assistiam, mas cientes da imperiosidade de não interferir no livre arbítrio de quem quer que seja, trabalhavam incessantemente para atenuar os choques oriundos dessas práticas desarrazoadas, ao mesmo tempo que vibravam pela preservação da matriz umbandista trazida através de Zélio Fernandino de Moraes.

Urge dizer que nada disso que se comentou é, ou pelo menos se parece com Umbanda. Presentemente é chegado o momento de os umbandistas levantarem o véu que ao longo de cem anos encobriu a verdade e trazerem à luz a beleza cristalina da Umbanda real, uma Umbanda Cristã, caritativa, sóbria, racional, comprometida unicamente com o bem e com a evolução espiritual do planeta.

Aos poucos, dos mais diversos pontos, começam a eclodir manifestações voltadas para essa nova realidade: são novas casas que se abrem, páginas na Internet que divulgam a doutrina, livros que são publicados, abordando a necessidade de uma renovação, enfim, todo um movimento organizado no intuito de resgatar do emaranhado de crendices, superstições e feitiços a Umbanda redentora de humildade, simplicidade e pureza.

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